Bill Gates2008 e o PROFETA DO LIMPA O CU AO GUARDANAPO
(Cenas para argumento de filme cómico em preparação ).
Num café com todos em silêncio com a cabeça no ar a guardar a TV está um de cabeça baixa e lê a notícia de primeira página de que em 2008 Bill se dedicará só a beneficência e salta da cadeira gritando “bravo!” Todos se levantam das cadeiras e gritam “bravo! Goooolo! Grande golo! Vencemos...”
No meio daquele alvoroço a sua exaltação passa despercebida: mostra a um a notícia de Bill Gates que se dedicará a beneficência mas ele não lhe liga ... fala do golo ... todos falam do golo na TV enquanto ele fala de Bill Gates, ... mostra a notícia a todos sem que ninguém o guarde ... Repete: “O meu amigo Bill Gates é grande ... vai dedicar-se à beneficência ... vai salvar o mundo da fome, da guerra, da doença ...”
Aula de tribunal, uma mulher pede divórcio, diz que o seu marido se tornou louco e gay, que lhe põe os cornos com Bill Gates... (Gargalhada geral na sala do tribunal, até o juiz não consegue manter a seriedade e insiste se é verdade a gravidade do que afirma). Ela confirma que é verdade mas em sentido figurado: desde que Bill Gates disse que se dedicará à beneficência não fala de outra coisa e quer ser como ele, quer esbanjar todos os bens em beneficência. Como prova apresenta o filme que será projectado. O filme é real mas foi retocado de forma a mostrá-lo só a ele como realmente se passou mas com as pessoas e o ambiente modificado, desfocado, com a desculpa de se tornarem as outras pessoas irreconhecíveis para manter a privacy dá-se a impressão que no café estavam todos tranquilos e foram todos disturbados pelo “profeta”... Os comentários das imagens desfocadas dão a impressão de que todo aquele alvoroço foi provocado pela notícia de Bill Gates que se dedicará à beneficência. A mulher do “profeta” pede o divórcio para não perder todos os seus bens dizimados em beneficência, justificando a sua loucura com aquelas imagens.
Depois do divórcio viveu de vagabundo, com ciganos e num manicómio onde foi encontrar uma antiga amiga internada. Passou a viver secretamente com ela escondendo-se debaixo da cama quando chegava alguém. Depois passou a viver oficialmente no manicómio porque a sua presença melhorava a paciente ... Quando a doente se curou ele continuou a viver de vagabundo até que uma assistente social o salvou daquele estado de depressão, escreveu a sua vida e o transformou em “profeta” de uma nova religião humanista e filosófica.
A sala nobre da Universidade está completamente cheia de jovens e alguns levantam as namoradas de mini-saias com as pernas aos ombros porque insistem que querem ver o "profeta do futuro global" ou "profeta do limpa o cu ao guardanapo" como alguns lhe chamam.
Um velho de barbas e cabelos compridos despenteados chega frente aos micros. Alguém lhe diz algo em segredo. Ele tira a camisola, volta-a com o detrás para a frente e veste-a de novo. Entretanto começou a fazer-se silêncio e alguém comentou:
Não me digam que vai fazer strip-tease?
É capaz disso. Daquele pode esperar-se tudo!
Tinha a camisola ao contrário ...
Sem apresentações nem preâmbulos começou:
"Enquanto virei esta camisola milhares de crianças morreram de fome. Uns dizem que morrem 24.000 por dia. A milésima parte já seriam muitos. Temos de criar novos comportamentos, nova educação, nova ética, novas boas maneiras. Ensinaram-me certas boas maneiras de não inclinar o prato quando se come sopa. Esse simples resto de comida que a boa educação dos ricos manda para o lixo poluir o ambiente salvaria da fome milhares de pessoas. Uma colher de sopa que um bilião de ricos deita ao lixo salvaria ... (faz umas contas num quadro ...) dez milhões que não morreriam se pudessem comer 100 colheres de sopa por dia. Não podeis levar uma colher de sopa aos esfomeados mas podeis mudar hábitos de consumo que vos levem a economizar por dia o suficiente para salvar uma vida e talvez adoptar um filho, um pai, um avô ou uma amante. Um simples guardanapo que usais à mesa para limpar os lábios pode ser metido no bolso, reciclado para limpar o nariz e depois para limpar o cu".
(Uma gargalhada geral e muitos aplausos interromperam o seu discurso. Quando voltou o silêncio continuou: )
"Uma simples grama de papel que economizasse um bilião de ricos corresponderia a ... (faz as contas no quadro) mil toneladas de papel, uma floresta salva cada dia, menos poluição atmosférica, menos a sofrer de alergias e doenças respiratórias ..."
Sentiu-se mal, caiu desmaiado. Seguem-se imagens descontroladas do que lhe vai passando pela cabeça enquanto chega a ambulância: um simples papel causara a sua separação da mulher na vésperas de Natal. Ou melhor, o papel foi só o último pretexto. Não queria embrulhar um presente de Natal para não poluir e destruir florestas.
Chama-o incivil, manda-o para fora de casa.